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Funceme completa 45 anos comemorando conquistas que vão além do Ceará

18 de setembro de 2017 - 14:00

 

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) completa 45 anos nesta segunda-feira (18) firmando-se com uma das mais importantes instituições no âmbito da pesquisa e desenvolvimento em Meteorologia, Recursos Hídricos, Meio Ambiente e Tecnologia. Os estudos realizados pela Funceme ao longo da sua história vêm colaborando não somente para o Estado do Ceará, mas também para a região Nordeste, sendo reconhecida até mesmo internacionalmente pelos seus resultados junto à sociedade, comunidade científica e órgãos públicos.

Criada em 18 de setembro de 1972 com o nome de Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais, o órgão iniciou suas atividades a partir da necessidade de encontrar saídas para as severas secas que assolavam o Ceará. Após 15 anos dedicando-se aos estudos das modificações artificiais do tempo, através das técnicas de nucleação artificial de nuvens e da climatologia do Ceará, foi criada, em 1987, a atual estrutura da Funceme. Na ocasião, foram incorporadas às suas atividades, além da Meteorologia, estudos teóricos e aplicados relativos ao meio ambiente e aos recursos hídricos. Hoje, a Fundação integra a Secretaria dos Recursos Hídricos do Ceará (SRH).

Reconhecimento

 

Na semana em que completa 45 anos de vida, o governador do Estado destacou as conquistas da Funceme e a importância das suas atividades para melhorar a gestão dos recursos hídricos.

“A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos é um órgão estratégico do Estado para o planejamento das ações que serão realizadas. Vivemos em um Estado quase todo coberto pelo Semiárido e precisamos ter um bom acompanhamento das chuvas. Por isso, temos investido cada vez mais na valorização dos servidores e em estrutura para modernizarmos a Funceme. Com os equipamentos de ponta, teremos cada vez mais as melhores condições de trabalho e pesquisa. Graças ao trabalho preciso da Funceme, conseguimos traçar as estratégias hídricas para minimizar os efeitos da estiagem no Ceará. Aproveito para deixar um forte abraço e parabenizar a todos que fazem o dia a dia do órgão pelos seus 45 anos. E que o próximo ano seja de muita chuva para o nosso povo”, afirma Camilo Santana.

O trabalho da Funceme também foi reconhecido pelo secretário dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Chegando a quase meio século de vida, sua própria idade já é um destaque, pois mostra a força que a instituição ganhou ao longo do tempo.

“Neste dia em que a Funceme está completando 45 anos, é muito importante a gente realçar o fato de uma instituição a alcançar tantos anos de vida, porque já demonstra a importância e, levando em conta o grande trabalho, o grande serviço que a Funceme presta à sociedade, no sentido de trabalhar uma área tão vital, tão importante para nós cearenses, para nós nordestinos, que é a questão da previsão do tempo, do clima, fazendo todo um trabalho de monitoramento das chuvas e, ao mesmo tempo, tento a vasta base de conhecimento dos recursos naturais, dos recursos ambientais, do solo, da vegetação e do relevo do Estado, é um órgão muito importante para a sociedade cearense”, comenta o chefe da Pasta.

Teixeira lembra ainda que a Funceme faz hoje um elo entre as universidades, por meio de seus estudos, e com os demais órgãos do Governo que estão dentro do arcabouço da SRH ou não, o que também reforça o trabalho que vem sendo desenvolvido em conjunto com a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) e Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), por exemplo.

“É um órgão que merece os parabéns de toda a sociedade cearense, não só por estar completando 45 anos e ser uma das instituições mais antigas do aparato público estadual, mas também pelo serviço relevante que tem prestado à nossa sociedade. Então parabéns a todos os servidores da Funceme, parabéns ao povo cearense por essa bela instituição que completa ai quase meio século de vida”, diz Teixeira.

Gestão e desenvolvimento

 

À frente da Funceme desde agosto de 2006, o presidente Eduardo Sávio Martins destaca os principais pontos que levaram a instituição a ser essencial para o Ceará. Com um papel que vai além do monitoramento do clima e do tempo, a instituição se consolida, ao chegar aos 45 anos, como um órgãos de destaque não somente no Estado, mas também para o Nordeste – a partir de ferramentas como o Monitor das Secas, por exemplo -, sendo reconhecida internacionalmente por órgãos de atividades relacionadas. Confira entrevista:

– A Funceme chega aos 45 anos com uma história rica em planejamento e pesquisa em torno do Clima, Recursos Hídricos e Meio Ambiente. Na sua visão, qual a importância do órgão nos dias atuais?

 

Eduardo Sávio – A sociedade pouco conhece a atuação da Funceme em áreas como recursos hídricos e meio ambiente, e até mesmo na agricultura e energias limpas, apesar de não ter formalmente estas duas últimas áreas na sua estrutura organizacional, vem produzindo informação de grande importância, seja no balizamento de políticas públicas destes setores, seja em seus processos decisórios setoriais.

Ela passou por grandes transformações ao longo de sua história, mas o foco na utilidade da informação para o usuário final evoluiu em um processo que se fortaleceu a partir de 2001. A partir deste ano a instituição passou a estruturar seus produtos, projetos e programas pensando em uma estratégia que partia das necessidades do usuário para a concepção destes – uma lógica bem diferente da anteriormente utilizada, em que se produzia a informação e produtos sem uma maior reflexão, seja sobre a linguagem de comunicação com o setor usuário, seja sobre o calendário e tipologia de decisão a ser tomada por este setor. Em alguns casos, os próprios setores foram envolvidos neste processo de construção de informação, reconhecendo-se aqui que a Funceme, por mais que estude um dado setor, não pode achar que conhece as necessidades destes mais do que aqueles que tomam decisões sistemáticas no contexto setorial.

A instituição hoje produz uma longa lista de informação e produtos para setores diversos, como recursos hídricos, meio ambiente, agricultura, pesca, defesa civil, energias alternativas, entre outros. Isto é fruto das profundas transformações sofridas ao longo dos tempos, marcadas por ousadia, inovação e sempre tentando agregar valor aos dados observados e às informações geradas. Em um mundo sujeito a extremos, sejam de secas ou cheias, a informação gerada pela Funceme passa a ter caráter estratégico, tanto para o Governo do Estado quanto para o setor privado, visando uma maior preparação destes à variabilidade e mudanças de clima, assim como seus impactos nos vários setores da economia.

– Que pontos da história podem ser destacados como mais marcantes?

 

ES – Acredito que podemos pensar a Funceme em cinco fases que descrevem sucintamente seus estágios de crescimento enquanto instituição que serve à sociedade cearense:

1ª Fase: Modificação da Natureza – Nesta fase acreditava-se que podia se modificar a Natureza a partir da Nucleação Artificial, tendo sido criada para este propósito em 18 de setembro de 1972;

2ª Fase: Produção do Conhecimento – Uma fase totalmente voltada para a produção de conhecimento, embora sem uma construção de uma agenda bem definida na utilidade do conhecimento gerado. Esta fase foi marcante pela estruturação da carreira de pesquisador e pela realização de um concurso público que atraiu valores de todo o país;

3ª Fase: Geografia Física – Nesta fase o esforço voltou-se ao conhecimento da geografia física do estado, em particular, na geração de mapas temáticos que apresentassem as várias facetas do Ceará;

4ª Fase: Utilidade da Informação para o Usuário Final – Esta fase passou a ter como principal foco a concepção dos produtos e projetos estruturados em uma trilogia Clima, Natureza e Sociedade.

5ª Fase: Usuário como Parceiro da Obtenção e Construção da Informação Gerada – Essa fase mais recente, intrinsecamente ligada à anterior, passou a buscar o envolvimento do usuário na obtenção e construção da informação gerada, concedendo maior acessibilidade às informações, através das mídias sociais, aplicativos mobile, portais específicos para setores usuários, etc. Esta fase é marcada pela busca incessante de parceiros e recursos nacionais e externos para o alcance dos objetivos institucionais. O conhecimento ora gerado tem uma agenda focada na sua utilidade em processos decisórios e de formulação de políticas públicas, assim como na fase anterior, mas agora agindo proativamente neste sentido. Esta fase também é marcada pela reestruturação da carreira de pesquisador e, em um futuro próximo, pela realização de um concurso público. Espera-se que este atraia novamente valores de todo o país e que renove a instituição com ideias novas, formações diferenciadas e ferramentas para consecução da missão institucional.

– A Funceme também investe bastante em tecnologia, seja criando ou adquirindo. Quais os principais avanços desta área que você pode destacar? E qual a importância delas?

 

ES – São inúmeras, mas podemos destacar cinco: 1. Monitoramento de Eventos Extremos na escala de Tempo ou cheias (Radar Meteorológico) e na escala de Clima ou secas (Monitor de Secas do Nordeste); 2. A estruturação de um robusto Sistema de Previsão Sazonal de Clima; 3. A avaliação dos impactos da variabilidade climática nos setores de recursos hídricos e agricultura; 4. O desenvolvimento de Sistemas de Suporte à Decisão (SSD) para o Setor de Recursos Hídricos; 5. A construção de Planos de Contingência de Secas para Sistemas de Reservatórios e Sistemas de Abastecimento Urbano.

O Monitor de Secas do Nordeste colocou a Funceme em um trabalho belíssimo de articulação regional buscando a construção de uma ação coordenada entre os estados da região e instituições federais, em particular, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

O Sistema de Previsão de Clima implicou inicialmente em um tremendo esforço para rodar um Modelo Climático Global na Funceme, primeiramente forçado por cenários de persistência, e posteriormente, por cenários construídos a partir de discussão com especialistas. Ao mesmo tempo, buscou-se parcerias com centros federais de meteorologia (INMET e CPTEC) para a construção de um superconjunto nacional que contava com um modelo estatístico para o Brasil (INMET) e quatro modelos atmosféricos globais (sendo um da Funceme e três do CPTEC), sempre buscando a melhoria da performance deste sistema.

O esforço de agregar mais modelos atmosféricos globais não parou, e hoje a instituição inclui em seu rol de modelos atmosféricos globais os modelos do superconjunto da América do Norte, totalizando mais oito modelos atmosféricos globais, agora acoplados com os oceanos. Neste contexto, três modelos para detalhamento do clima regional são também parte deste sistema: RSM97, RSM2008 e RAMS4.6. Ainda como parte deste sistema de previsão, a Funceme, a partir de uma colaboração com o International Research Institute for Climate Prediction (IRI, Columbia University), passou a rodar um sistema para previsão das Temperaturas da Superfície do Mar, o qual passará a ser utilizado para forçar o modelo atmosférico global (ECHAM4.6) a partir de janeiro de 2018. Outro tema de interesse que a instituição tem trabalhado fortemente é na obtenção informação subsazonal a partir da previsão sazonal que possa ser utilizada por setores de interesse (e.g. Agricultura e Recursos Hídricos).

A partir dos resultados da previsão climática, pode-se realizar uma avaliação dos impactos da variabilidade climática nos setores de recursos hídricos e agricultura, seja utilizando modelos destes setores que usam as variáveis preditas como entrada, seja a partir de indicadores que são altamente correlacionadas com, por exemplo, aporte a reservatórios ou safra de culturas de sequeiro. A previsão de aporte, hoje, é efetivamente utilizada pela Cogerh nas reuniões de alocação dos vários sistemas do estado. Estes cenários são incorporados, por exemplo, no sistema de suporte à decisão para definição das regras de operação dos reservatórios de um dado sistema.

Mais recentemente a Funceme vem trabalhando, em parceria com a Agência Nacional de Águas e a Universidade Federal do Ceará, na construção de Planos de Contingência para Sistemas de Reservatórios e Sistemas de Abastecimento Urbano da Região Nordeste. O órgão vem trabalhando incessantemente na construção de uma agenda proativa na Gestão de Secas, e neste sentido, os Planos de Contingência são uma prioridade ao lado do Monitoramento e Previsão de Secas.

– Devido à estiagem que sofre o Estado, a Funceme é principalmente lembrada pela área de Meteorologia, porém seu trabalho se expande para outras áreas. Gostaria que destacasse as áreas de atuação e as suas conquistas ao longo dos anos.

 

ES – Existe um jargão popular em Tecnologia da Informação que diz “uma imagem vale mais que 1.024 caracteres”. Neste sentido, a figura abaixo expressa bem a atuação da Funceme e um observador desavisado pode chegar a perguntar: “Onde está a Meteorologia?”. A informação meteorológica é basilar para a atuação da instituição, mas a figura tenta expressar o grande esforço que tem sido feito ao longo destes anos: mostrar o valor da instituição, não pela informação em si, mas pelo seu uso/aplicação em processos decisórios diversos e subsidiadora de políticas públicas nas áreas com aderência na atuação da Funceme.